Sensualidade Indescritível

Quando me chamam para participar de conferências com jovens desescolarizados, minha oficina para adolescentes mais popular se chama “Sensualidade Indescritível”: um curso intensivo sobre como conversar com estranhos.

Ok, já sei o que você está pensando. “Esse pessoal que não vai à escola é tudo antissocial mesmo”.

Mas eu não faço essa oficina porque adolescentes desescolarizados são seres estranhos que não conseguem conversar com ninguém (eles são tão estranhos quanto qualquer adolescente). Eu a criei porque era isso que eu gostaria de ter ouvido quando tinha a idade deles.

A oficina, em poucas linhas, funciona assim.

Você sabia que existem dois tipos de sensualidade? O primeiro tipo é aquela atração relacionada a um padrão de beleza, típica dos modelos e das estrelas de cinema, e meio que você nasce com ela ou não. O segundo tipo tem a ver com um conjunto de ferramentas de linguagem corporal e conversação que qualquer um pode aplicar. Ao utilizá-las, você começa a construir uma sensualidade difícil de pôr em palavras: indescritível.

O primeiro acrônimo da sensualidade indescritível é o PASMO. Ele resume uma série de cinco coisas a se fazer se você quer que alguém tenha uma primeira impressão positiva a seu respeito. Por que a primeira impressão é importante? Porque, no limite, nós acabamos julgando um livro pela capa. Isso não quer dizer que sejamos superficiais — somos apenas práticos. Você já foi a uma livraria? É claro que julgamos livros pelas suas capas. O mesmo ocorre quando somos apresentados a alguém.

P significa Postura. Cabeça erguida, braços do lado do tronco. Respiração profunda.

A é Amplificar. Você já percebeu o quão longe suas orelhas estão da sua boca, e o quão ainda mais distante as orelhas das outras pessoas estão da sua boca? Precisamos falar um pouco mais alto do que o que normalmente achamos ser necessário para sermos escutados. Falar num tom muito baixo e calmo o tempo todo é e-s-t-r-a-n-h-o.

S tem a ver com Sorrir. Tente isso: relaxe totalmente seus músculos faciais e então se olhe no espelho. A maioria de nós vê uma cara franzida, ou pelo menos um rosto não muito convidativo. Nossos rostos não sorriem naturalmente. Quando você conhecer alguém, lembre-se de sorrir não só com a boca, mas também com os olhos (deixe os pés de galinha fazerem seu trabalho).

M significa Mãos. Quando as pessoas estão nervosas, suas mãos as denunciam ficando toda hora em contato com a roupa, debruçadas sobre algum objeto ou escondidas nos bolsos ou nas axilas. Libere suas mãos e simplesmente as deixe em sua posição natural. Se você for cumprimentar alguém com um aperto de mão, seja firme e delicado, evitando tanto amolecer demais quanto apertar demais.

O é a letra inicial de Olho no Olho. Fazer contato visual é importante, mas de maneira equilibrada: olho no olho demais ou de menos é um problema. Se você sustenta um contato visual por apenas uma fração de segundo, você transparecerá nervosismo. Mas se você olhar nos olhos por um tempo muito prolongado — especialmente com uma pessoa que você acabou de conhecer — você envia uma mensagem igualmente indesejada. Mantenha contato visual com alguém durante três a cinco segundos de cada vez, e se você está falando para um grupo, olhe um pouco para todos de maneira uniforme ao invés de se direcionar apenas a uma pessoa.

Depois de introduzir os participantes da oficina nas cinco recomendações do PASMO, eu peço aos jovens para formarem uma longa fila e digo a eles para começarem a praticar conversando uns com os outros. Depois eu os convido a “desligar” as cinco letras, para que eles sintam claramente a diferença. Por último, peço que eles religuem todas as letras exceto uma e retomem a conversa, de modo que um tente adivinhar qual recomendação o outro não está seguindo (a maioria de nós tem uma ou duas letras nas quais precisa melhorar).

A segunda ferramenta para se obter uma sensualidade indescritível é o EPAE: quatro dicas para quem quer criar boas conversas. Assim é que você sustenta uma interação para além da primeira impressão.

E significa Escuta Reflexiva, um tipo de escuta que costuma ser utilizado por terapeutas. Por meio da escuta reflexiva, você demonstra ao seu interlocutor que você está realmente prestando atenção no que ele diz, ao contrário de apenas fingir que está escutando. O exercício começa com os jovens falando pequenas frases uns para os outros e depois as repetindo palavra por palavra. Em seguida, eles fazem novamente a atividade, trocando apenas uma ou duas palavras-chave das frases que ouviram. As novas palavras precisam ter um significado semelhante às que foram substituídas. Por exemplo, se alguém te diz “tive um dia ruim”, você pode espelhá-la dizendo “você teve um dia péssimo”, mas não “você teve uma semana péssima”. Finalmente, os adolescentes encadeiam múltiplas frases a partir da escuta reflexiva criando uma miniconversa capaz de explicitar que eles estão realmente se escutando.

P é igual a Perguntas Abertas. Utilizar somente a escuta reflexiva não te leva muito longe numa conversa. Para manter pessoas conversando (ou apontar uma nova direção para a conversa), faça uma pergunta aberta, isto é, que possibilite várias respostas. Algumas questões abertas que você pode usar são, por exemplo, “O que faz você querer continuar trabalhando com jovens desescolarizados?” ou “Por que você gosta tanto de vídeos de gatos na Internet?”.

A significa Afirmações Pessoais. Até agora, nossas táticas de conversa miraram apenas na outra pessoa. Mas falar o que você pensa e acredita também é importante. Continuando a partir da pergunta anterior, talvez você poderia acrescentar algo assim: “Eu acho que vídeos de gatos são meio ridículos e um desperdício de espaço na Internet”. E então eu diria “Discordo de você”, já adicionando uma pergunta aberta: “Que tipo de vídeos ridículos de animais você prefere?”.

E tem a ver com Experiências, um lembrete de que as melhores conversas terminam com experiências concretas — isto é, fazer coisas — ao invés de apenas falar sobre elas. “Que tal então irmos assistir esse filme?” ou “E se a gente fizesse nosso próprio vídeo de gato?”. Se você gosta da pessoa com quem está conversando, não tenha medo de realmente fazer algo com ela ao invés de ficar só falando pra sempre.

Para ter uma ótima conversa com qualquer pessoa do mundo, tudo que você precisa é viver o PASMO e o EPAE na prática.

Por uma nova forma de trabalhar e gerar valor

Ei! Sou o Alex. É com muita alegria que faço este blog.

Ofereço este e outros projetos gratuitamente para o mundo, mas ainda preciso de grana para me sustentar. Se quiser conhecer mais sobre o que faço, entre no meu site, e se entender que faz sentido sustentar meu trabalho com qualquer valor, apoie meu Unlock.

Qualquer coisa, entre em contato ;)

--

--

Alex Bretas
A Arte da Aprendizagem Autodirigida

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.