22. Dicas de Carreira de um Robô Dinossauro

Você já conheceu alguma vez um falso robô dinossauro gigante?

Nem eu, até que conheci o Fake Grimlock.

Fake Grimlock é uma perfil do Twitter que oferece pílulas de sabedoria de 140 caracteres — sempre em CAIXA ALTA e sem muitas preocupações gramaticais — para empreendedores de tecnologia e quaisquer outras pessoas que estão construindo algo do zero.

Alguns exemplos de tweets incluem:

STARTUPS CONSTROEM O FUTURO COM CINZAS DO PRESENTE. O QUE É BOM PARA TODO MUNDO EXCETO PARA AS CINZAS.

TODOS QUERIAM QUE EXISTISSE UMA POCAO MAGICA PARA SER INCRIVEL. EXISTE. CHAMA “TRABALHO DURO”.

Grimlock também faz desenhos:

Entre pão e bacon, seja um bacon. Fonte: AVC.

O mais interessante do Fake Grimlock é que a conta é anônima. Quase ninguém sabe quem escreve os tweets, e mesmo assim o perfil tem mais de 10.000 seguidores.

Como isso aconteceu? Numa das raras entrevistas em que não se passa pelo personagem, seu criador assim se pronunciou:

Ninguém sabia quem eu era. Não usei nenhum dos meus contatos. Não me promovi por meio de nenhum dos meus amigos. Comecei totalmente do zero meio que aleatoriamente no Twitter. Eu seguia algumas pessoas e algumas pessoas me seguiam… Até que percebi que havia uma audiência no mundo da tecnologia que eu poderia alcançar… Que eu poderia vir do nada, hackear a forma de se usar uma rede social e me tornar alguém influente na tecnologia. Simplesmente porque as pessoas veriam que o que eu falo faz sentido.

A história de Grimlock demonstra que, para esculpir sua própria carreira empreendedora, você precisa:

  1. Encontrar um grupo de pessoas que você compreenda
  2. Criar algo que essas pessoas achem útil, inspirador ou divertido

Faça essas duas coisas e as pessoas ficarão satisfeitas em te dar dinheiro ou atenção em troca. Essa é a promessa do empreendedorismo.

Mas a história do nosso amigo dinossauro também ilustra um aprendizado ainda mais valioso: criar um produto interessante— desde um artigo, vídeo, sanduíche ou jogo de computador até roupas de bebê, dispositivos eletrônicos ou quaisquer outras coisas — pode não ser o suficiente para se ter sucesso.

Para que haja realmente um diferencial, seu produto precisa que haja uma personalidade por trás dele.

Vejamos como o próprio Fake Grimlock — um exemplo real disso — explica essa ideia:

AO ESCOLHER PRODUTO, HUMANOS SÓ OLHAM SE FUNCIONA E SE É INTERESSANTE.

MUNDO ESTA CHEIO DE COISAS QUE FUNCIONAM. MAIORIA CHATAS.

PERSONALIDADE = GERA INTERESSE. INTERESSE = PESSOA SE IMPORTA. PESSOA SE IMPORTA = ELA FALA SOBRE ISSO.

TODO MUNDO FALA E SE IMPORTA COM SEU PRODUTO? VOCE GANHOU.

Grimlock enfatiza que não importa o que você construa, é preciso haver qualidade. “Isso realmente funciona?” continua sendo uma pergunta importante. Mas num mundo onde podemos escolher tantos produtos que funcionam, a próxima pergunta é “Por que alguém deveria se importar com isso?”. Aqui é onde a personalidade entra.

Num sanduíche de bacon, por exemplo, tanto o pão quanto o bacon são importantes para o sanduíche funcionar, mas o bacon representa sua personalidade.

Grimlock diz que, para criar uma personalidade, você precisa responder a três perguntas:

  1. COMO VOCE MUDA A VIDA DO CLIENTE?
  2. O QUE VOCE DEFENDE?
  3. O QUE OU QUEM VOCE ODEIA?

Se você consegue responder a essas três questões — e explicitá-las nos seus produtos — , então as pessoas vão querer comprar o que você está vendendo.

Essas perguntas me fazem lembrar dos meus tempos de faculdade. Se alguém tivesse me perguntado naquele momento porque eu estava estudando astrofísica, eu provavelmente teria respondido que achava as estrelas interessantes, e minha resposta terminaria aí.

A resposta mais verdadeira seria que eu tive boas notas em matemática e ciências no ensino médio; ser um astrofísico era um título que soava bem ao ego, e estudar astrofísica simplesmente parecia mais legal que qualquer outra coisa que eu poderia estar fazendo naquele momento.

O “produto” que eu estava criando naquela época — ser especialista em matemática e ciência — não tinha lá muita personalidade. Se eu tivesse continuado nesse caminho, não acho que eu teria me tornado um cientista muito bem-sucedido.

Por sorte, no meio desse processo de conseguir meu diploma, descobri a educação alternativa e, de repente, eu tinha encontrado minha personalidade.

Como eu pretendia mudar a vida das pessoas? Mostrando a elas novos e entusiasmantes caminhos educacionais fora da rota tradicional.

O que eu defendia? Que todos nós deveríamos assumir inteira responsabilidade pela nossa educação e pela nossas vidas.

O que ou quem eu odiava? O desperdício de tempo dos mais jovens com a escolarização compulsória, quando existem uma série de outras coisas mais motivantes, produtivas e divertidas que eles poderiam estar fazendo.

Minha recém-encontrada personalidade tornou minhas próximas escolhas muito claras: sair da graduação em astrofísica, desenhar autonomamente meu próprio curso universitário e me envolver em quantos programas de educação alternativa e experiencial fossem possíveis. Essas decisões também fizeram com que pessoas se interessassem pela minha trajetória, me perguntando porque eu tinha abandonado um caminho aparentemente promissor para me juntar à sortida tribo da desescolarização, ou porque eu apoiava o direito à educação desescolarizada mesmo sem compartilhar das crenças religiosas que motivam várias famílias adeptas do homeschooling.

Ter uma personalidade por trás do meu produto, creio eu, é a verdadeira razão para os modestos sucessos da minha carreira autodirigida até agora: ter meu primeiro livro publicado, ser pago para falar em conferências de educação e iniciar a Unschool Adventures.

Hoje, continuo precisando produzir coisas que as pessoas querem. Ter uma personalidade não suspende as danosas consequências de se ter um produto ruim. E sim, eu criei uma série de artigos medíocres que não consegui publicar e propostas de viagens para jovens que não conseguiram angariar nem o número mínimo de participantes. Mas os tweets de Fake Grimlock me lembram que preciso reavaliar e refinar minha missão, valores e formas de apresentação tão frequentemente quanto criar novos produtos.

Para criar uma carreira autodirigida, crie mais do que um produto: construa uma personalidade.

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Alex Bretas
A Arte da Aprendizagem Autodirigida

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.