Com nostalgia e conteúdo relevante, Creem Mag retorna para reinventar o negócio de mídia via assinaturas

Tradicional publicação de rock explora nicho, oferecendo benefícios atrelados às edições trimestrais sem perseguir tráfego. O mantra pregado pela revista é: ‘não estamos construindo o maior público de turistas digitais, não temos anúncios e não publicamos conteúdo gratuito.’

Eduardo Mendes
4 min readMar 27, 2024

A Creem é uma grande entusiasta da cena regional e que remonta ao rústico. E para provar que não é só uma conversa para afagar o ego de roqueiros old school, a edição da primavera intitulada “No New York, No LA” trouxe uma collab com a Third Man Records.

Sediada em Detroit/Nashville, a gravadora independente proporcionará um momento nostálgico aos assinantes da revista por meio de um pacote de prêmios, que incluem relíquias como 3 LPs do White Stripes Live at Gold Dollar Detroit.

Este tipo de parceria tem sido recorrente desde que a Creem voltou a ser publicada trimestralmente, a partir de 2022.

Sob a batuta de de JJ, filho de Barry Kramer, um dos fundadores originais, a revista bancou seu retorno triunfal, apostando na capacidade de gerar apelo emocional aos seus leitores. No novo manual, resenhas de álbuns, top 10s ou manchetes clickbait estão definitivamente banidos.

Há uma semana, a Fast Company detalhou como o misto entre nostalgia e conteúdo relevante está emplacando um negócio de mídia sustentado por assinaturas. Em 18 meses, foram dez mil inscritos que podem optar por um plano anual de US$ 79 ou US$ 129.

Os assinantes têm acesso à revista e aos arquivo digitais, descontos em merchandising e ingressos para eventos e produtos indisponíveis para o público em geral.

“Aqui na CREEM, não estamos construindo o maior público de turistas digitais. Creem.com não tem anúncios; não publicamos conteúdo gratuito. Se você quer notícias de música com SEO amigável como dezenas de outros sites fazem, não perca seu tempo, CREEM não é para você.”

O recado sem rodeios enviado por John Martin foi seguido à reportagem em um post no Linkedin. Atual CEO da revista, ele se considera um dos vários membros integrantes da diáspora da VICE, e que se encaminharam para outros projetos motivados por um dilema: por que não fazer um produto que valha a pena pagar?

A reflexão de Martin, na verdade, era uma palavra final sobre o desfecho do efêmero império de mídia erguido pela Vice, cujo fim derradeiro acontece este mês. A provocação serviu para provar que a equação escala + vendas = lucro não fechará as contas dos dinossauros da mídia digital.

O que a Vice vendia, a não ser o seu público?

“Qualquer discussão sobre a cobrança pelo produto era alfinetada pela liderança como conversa fiada. Obtenha escala e os anunciantes (esperamos) pagarão por tudo! Essa mentalidade era difundida do impresso ao digital”, lembrou.

Assim como a Creem, 404 Media, Bitcoin Magazine e Lore Machine são outras plataformas de conteúdo que absorveram boas cabeças pensantes da Vice. E em comum, como destacou Martin, eles “não são livres.” Ou seja, seus produtos têm um preço.

Pelo menos na Creem, o executivo garante: “Dá dinheiro.”

A Creem Mag é mais um case trazido por mim para mostrar como será reconfigurada esta indústria na próxima década: a rentabilização da máquina de mídia se dará a partir de estratégias direcionadas para nichos que focam na retomada da qualidade em detrimento da perseguição de tráfego.

Apesar de ainda ser embrionário, este movimento já é abraçado por marcas icônicas como Mundial e Sports Illustrated e até mesmo por LeBron James e seu novo podcast de basquete. ( confira as histórias na sequência)

Não pode ser só uma coincidência.

O atual estado da mídia e as discussões sobre seu futuro

O novo lugar para falar sobre basquete imune à cultura clickbait

A rixa entre bilionários que colocou o legado da Sports Illustrated em jogo

O colapso derradeiro da Vice

Com novo braço de risco para empresas de mídia e tecnologia, Financial Times estimula inovação em negócios de nichos

A nova aposta do unicórnio do conteúdo esportivo

A queda da Pitchfork

Padrão ouro do jornalismo esportivo, Sports Illustrated fica à deriva após nova crise no grupo dono da marca

O case Mundial e como funcionará o negócio das editorias de nicho

Perspectivas para o futuro da mídia: como retomar a qualidade dentro de um modelo de negócio sustentável?

Substack abdica de ser um lugar só para newsletters para posicionar-se como um sistema de mídia em que criadores são a própria plataforma

A revelação dos escritores fakes da Sports Illustrated e o uso de AI pela mídia na tentativa de sobrevivência em meio à quebra da indústria

O papel dos megafandoms como curadores e a migração do consumo de notícias para as redes sociais

TikTok prepara-se para ser a plataforma de anúncios dos próximos grandes eventos esportivos nos EUA

A economia do gosto

O vazio das métricas de vaidade

Como o Boardroom e o FOS tentam reinventar o negócio de mídia e conteúdo esportivo

A mídia de luxo: o próximo negócio deste setor será sustentado por uma história de comunidade e patrocínio. A relação deficitária NY Times X The Athletic mostra por que a monetização via acesso e publicidade estagnou

A crise sem fim da indústria da mídia ganha novos capítulos: BuzzFeed coloca “tudo à venda”, e sites queixam-se de queda do tráfego após Facebook mudar algoritmo

Como vai o negócio de mídia? Falido! E seu futuro é tokenizado

Menos sociais e mais comerciais, plataformas veem diáspora de usuários para grupos menores e nichados. Movimento reforçado pela Web3 prevê retomada das conexões significativas

--

--

Eduardo Mendes
Eduardo Mendes

Written by Eduardo Mendes

Curated Insights Beyond the Ordinary | Intelligence, Content & Strategy for Sports, Media, Entertainment and the Creative Economy | Web3 & New Technologies