Com nostalgia e conteúdo relevante, Creem Mag retorna para reinventar o negócio de mídia via assinaturas
Tradicional publicação de rock explora nicho, oferecendo benefícios atrelados às edições trimestrais sem perseguir tráfego. O mantra pregado pela revista é: ‘não estamos construindo o maior público de turistas digitais, não temos anúncios e não publicamos conteúdo gratuito.’
A Creem é uma grande entusiasta da cena regional e que remonta ao rústico. E para provar que não é só uma conversa para afagar o ego de roqueiros old school, a edição da primavera intitulada “No New York, No LA” trouxe uma collab com a Third Man Records.
Sediada em Detroit/Nashville, a gravadora independente proporcionará um momento nostálgico aos assinantes da revista por meio de um pacote de prêmios, que incluem relíquias como 3 LPs do White Stripes Live at Gold Dollar Detroit.
Este tipo de parceria tem sido recorrente desde que a Creem voltou a ser publicada trimestralmente, a partir de 2022.
Sob a batuta de de JJ, filho de Barry Kramer, um dos fundadores originais, a revista bancou seu retorno triunfal, apostando na capacidade de gerar apelo emocional aos seus leitores. No novo manual, resenhas de álbuns, top 10s ou manchetes clickbait estão definitivamente banidos.
Há uma semana, a Fast Company detalhou como o misto entre nostalgia e conteúdo relevante está emplacando um negócio de mídia sustentado por assinaturas. Em 18 meses, foram dez mil inscritos que podem optar por um plano anual de US$ 79 ou US$ 129.
Os assinantes têm acesso à revista e aos arquivo digitais, descontos em merchandising e ingressos para eventos e produtos indisponíveis para o público em geral.
“Aqui na CREEM, não estamos construindo o maior público de turistas digitais. Creem.com não tem anúncios; não publicamos conteúdo gratuito. Se você quer notícias de música com SEO amigável como dezenas de outros sites fazem, não perca seu tempo, CREEM não é para você.”
O recado sem rodeios enviado por John Martin foi seguido à reportagem em um post no Linkedin. Atual CEO da revista, ele se considera um dos vários membros integrantes da diáspora da VICE, e que se encaminharam para outros projetos motivados por um dilema: por que não fazer um produto que valha a pena pagar?
A reflexão de Martin, na verdade, era uma palavra final sobre o desfecho do efêmero império de mídia erguido pela Vice, cujo fim derradeiro acontece este mês. A provocação serviu para provar que a equação escala + vendas = lucro não fechará as contas dos dinossauros da mídia digital.
O que a Vice vendia, a não ser o seu público?
“Qualquer discussão sobre a cobrança pelo produto era alfinetada pela liderança como conversa fiada. Obtenha escala e os anunciantes (esperamos) pagarão por tudo! Essa mentalidade era difundida do impresso ao digital”, lembrou.
Assim como a Creem, 404 Media, Bitcoin Magazine e Lore Machine são outras plataformas de conteúdo que absorveram boas cabeças pensantes da Vice. E em comum, como destacou Martin, eles “não são livres.” Ou seja, seus produtos têm um preço.
Pelo menos na Creem, o executivo garante: “Dá dinheiro.”
A Creem Mag é mais um case trazido por mim para mostrar como será reconfigurada esta indústria na próxima década: a rentabilização da máquina de mídia se dará a partir de estratégias direcionadas para nichos que focam na retomada da qualidade em detrimento da perseguição de tráfego.
Apesar de ainda ser embrionário, este movimento já é abraçado por marcas icônicas como Mundial e Sports Illustrated e até mesmo por LeBron James e seu novo podcast de basquete. ( confira as histórias na sequência)
Não pode ser só uma coincidência.
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