Panorama da História de Israel
Este é o começo de uma jornada pela história de Israel, das origens ao período romano.
Índice das aulas
Abaixo você encontra a lista de todas as aulas do curso
- Antes de falar da história
- Tempo
- Dos patriarcas ao Egito
- Êxodo e Sinai
- Entrando em Canaã
- Monarquia — o povo pede um rei
- Davi
- Jerusalém
- Salomão
- O Reino dividido
- A dinastia de Omri
- O apogeu do Reino do Norte
- A queda do Reino do Norte
- O Reino do Sul — Ezequias
- O Reino do Sul — Manasses Amom e Josias
- O fim do Reino do Sul
- Os que ficaram e os que foram
- Pensamento hebraico e teologia no exílio
- Remanescentes e refugiados
- O retorno a Jerusalém
- Neemias e Esdras
- Os Samaritanos
- Alexandre, o Grande
- Os Ptolomeus
- Os Selêucidas
- A perseguição de Antíoco IV
- Os Macabeus
- A dinastia asmoneia
- O judaísmo helênico
- Septuaginta e a literatura judaica da diáspora
- Os romanos chegaram
- Fariseus, escribas, saduceus e zelotes
- Literatura apocalíptica
- Os essênios e a comunidade de Qumran
- A sociedade judaica nos tempos de Jesus
- A Judeia na primeira metade do Século I d.C.
- 25 anos conturbados
- A primeira revolta judaica
- A segunda revolta judaica
- Epílogo
Antes de falar da história
A Bíblia não é um livro de história, mas ela contém história. Não se trata de relativizar os relatos históricos contidos na Bíblia, mas sim de olhar para os relatos históricos na perspectiva de que o texto sagrado nos apresenta uma face da história contada pelos protagonistas dela. Neste sentido, vamos abordar, ao longo de nossos encontros sobre o Panorama da História de Israel, questões históricas que nos colocarão diante da realidade no antigo oriente próximo e em paralelo com outras culturas no mesmo período. Vamos trilhar o caminho partindo de antes de Abrão até a tomada da palestina pelo Império Romano. Nosso objetivo é que você tenha um olhar introdutório sobre as questões históricas e possa compreender melhor os textos bíblicos.
A Bíblia, por ser um conjunto de livros, possui contradições, datações erradas, histórias que não batem com a historiografia e arqueologia mundial. Tudo isso não desmerece o texto o bíblico, nem o torna menor, mas o torna humano, e nada mais divino que ser humano, dado que o próprio Deus se fez homem para falar conosco.[1]
De acordo com a Bíblia, a história de Israel começa com a migração dos patriarcas hebreus da Mesopotâmia para a sua nova pátria na Palestina [2]
É a partir deste período que a história é contada, mas não podemos fechar nossos olhos para o que há antes. Por isso vamos falar do período que abrangeremos e em seguida falaremos sobre um tema que sempre é controverso nas questões da pré-história de Israel.
Período
Vamos abranger um longo período da história de Israel, começando antes de 2000.a.C e indo até o ano 100d.C. Tal desafio não nos permitirá entras nas especificidades, por isso é um panorama. Mas antes, é preciso falar dos antecedentes, de como o mundo acontecia e como esta história foi possível de começar.
Começamos no Período Neolítico, estamos falando de 5000a.C. a 3000a.C., na saída da Idade da Pedra para a Idade do Metal. Aconteceram evoluções neste período que foi fundamental para que o povo Hebreu surgisse, a saber [3]:
- A crosta terrestre aquece, aumentando o nível dos mares e resultando em alterações climáticas.
- Formam-se grandes rios e desertos, além de florestas temperadas e tropicais.
- Animais de grande porte desaparecem e dão origem à fauna que conhecemos hoje.
- A vida vegetal modifica-se, favorecendo a sobrevivência humana.
- Dão-se grandes conquistas técnicas do ser humano que, aliadas às transformações do ambiente, os permitem controlar gradativamente a natureza.
- O ser humano aprende aos poucos a reproduzir plantas, domesticar animais e armazenar alimentos.
- A agricultura e a domesticação de animais favorecem um sensível aumento populacional em algumas regiões.
- Ampliam-se as conquistas técnicas, como a produção de cerâmica.
- Os povos aprendem aos poucos como se organizar e trabalhar em sistemas cooperativos.
Quando o ser humano aprende a reproduzir plantas e domesticar animais, ele começa a sua transição de nômade para fixo. Não precisa mais viajar, caçar, colher na selva para conseguir alimento, você pode fazer você mesmo. Ainda não havia, neste período, o hábito de se fixar permanentemente num local, estabelecendo cidades e vilas, mas havia o costume de se retornar a antigos acampamentos e permanecer neles por anos, até gerações. Sendo o povo hebreu um povo sem terra, sem local próprio, ele era um povo nômade, mas que se fixava em determinadas regiões por um bom tempo. Em Gênesis 42.1–2 lemos:
Quando Jacó soube que no Egito havia cereais, disse a seus filhos: “Por que vocês estão aí parados, olhando uns para os outros? Ouvi dizer que há cereais no Egito. Desçam até lá e comprem cereais em quantidade suficiente para nos mantermos vivos. Do contrário, morreremos”.
Percebam que Jacó e seus filhos estavam estabelecidos em um local e nele havia escassez de alimento. A falta de alimento leva Jacó, no fim das contas, a migrar para o Egito, que era administrado pelo seu filho. Este episódio nos revela a forma como o povo de Deus vivia antes do Êxodo. Apenas por curiosidade, os verbos “partir” e “sair” aparecem mais de trinta vezes no relato do Gênesis. Esta característica revela a transição histórica que estava inserido o povo hebreu e nos faz compreender por que Abraão, Isaque e Jacó levantavam tanto acampamento de um lado para o outro. Nos faz compreender também por que Noé era lavrador (Gênesis 9.20) em um período onde lavrar a terra parece ser algo raro.
Criacionismo e Evolucionismo
Existem duas discussões que sempre aparecem quando se aborda a questão das origens do povo hebreu, a primeira delas diz respeito a se narrar a história a partir do relato da criação, Gênesis 1 e 2, e dali se construir a narrativa histórica. Há muita controvérsia entre as questões religiosas e acadêmicas neste ponto, o que podemos afirmar é que não dá para se levar na literalidade os relatos de Gênesis. Interpretar Gênesis 1 a 11 como literal é correr o risco de não encontrar coerência entre o que se conhece hoje da vida e o que é relato de uma cultura para uma determinada época. A maioria dos povos antigos possuem relatos sobre a criação do mundo. Alguns deles muito parecidos com o relato de Gênesis. O que precisamos entender é que, num determinado momento histórico, há milênios, foi preciso responder sobre a origem de todas as coisas e a resposta que o povo hebreu construiu, com o que tinha de recursos na época, foi Gênesis 1 e 2, mas foi também o relato da criação em Jó e os Salmos que exaltam a criação. Nada disso diminui o fato de que Deus é o criador de tudo o que há. O próprio Charles Darwin era cristão, está enterrado na Abadia de Westminster e afirmou, em vida, que sua teoria não excluía o criacionismo. Portanto, enveredar na discussão entre criacionismo e evolucionismo é perda de tempo, é gastar saliva com o que não edificará.
Conclusão
Chegamos ao final do nosso primeiro encontro tendo em mente que teremos pela frente uma longa jornada de mais de dois mil anos de história. Fixando que o ponto de partida é a transição da Idade da Pedra para a Idade do Metal, já conseguiremos ter um bom panorama do que temos pela frente. Somos tentados a pensar que, quanto mais antigo e distante de nós é uma cultura e geração, mais sem recursos culturais e ferramentais elas são. Não, cada geração é a geração de ponta, de qualidade e de progresso de seu tempo. O que precisamos é compreender que há, nos períodos estudados, limitações que só foram vencidas bem recentemente na história. Ainda precisamos abrir nosso coração e mente para o que veremos, pois Deus age na história, que é o palco do relacionamento entre ele e a sua criação.
Notas
[1] Artigo O que é a Bíblia do curso A Bíblia da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi.
[2] John Bright, História de Israel, 4a edição, Edições Paulinas
[3] Wikipédia
O presente texto foi escrito para a aula da Academia Bíblica da Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP, escrito em 4 de setembro de 2019