Redefinição da creator economy como mídia e construção de marca à la Disney: o que está por trás do aporte de US$ 100 M no Dude Perfect

Investimento da Highmount Capital enxerga projeto muito além dos 60 milhões de inscritos no YouTube. Pioneiros do formato sports adjacency e responsáveis por reinventar o entretenimento familiar, Dudes mostram como a convergência do conteúdo e do comércio redefinem um cenário em que os creators são tanto o meio quanto a mensagem na nova cadeia de valor da mídia do futuro

Eduardo Mendes
7 min readApr 11, 2024

O sabor da influência leva abacaxi, banana, suco de maçã e kiwi, proteína, iogurte congelado de baunilha e espirulina azul, que dá o toque final e a cor única para o shake com a assinatura autêntica do Dude Perfect.

A collab vislumbrada pelo Smoothie King faz alusão aos tempos em que os cinco colegas de quarto ainda eram meros estudantes desconhecidos na Texas A&M, e consumidores assíduos da rede que se posiciona como a líder mundial em inovação de smoothies.

Há um mês, a bebida turbinada por 14 gramas de proteína foi levada ao mercado com a narrativa de entregar nutrição e diversão às crianças e adolescentes que acompanham a saga do quinteto no YouTube.

O Eater Dallas noticiou a novidade com uma dose de humor irônico para expressar o frisson que o lançamento estava provocando: na metrópole texana você não encontra um Erewhon, a rede de supermercados de luxo dos EUA, mas pode desfrutar-se da bebida azul-esverdeada “criada por influenciadores.”

A sensação de espanto diante do novo fenômeno local com o selo Dude Perfect também provocou uma reação de incredulidade a Jason Illian.

“Acabei de passar de carro outro dia e havia uma fila fora do Smoothie King — nunca vi uma fila no Smoothie King — mas nove em cada 10 crianças saíram com um smoothie Dude Perfect.”

O relato do cofundador e sócio geral da Highmount Capital ao The Hollywood Reporter ajuda a compreender por que a empresa de capital privado está investindo US$ 100 milhões na marca cujo canal no YouTube tem 60 milhões de inscritos.

E é importante enxergar o Dude Perfect não só como um sucesso colossal da plataforma de vídeos. A história do smoothie contada pelo novo mecenas do grupo nos dá uma dimensão sobre o que os investidores enxergam como o próximo grande evento:

“Quando eles desenharam o primeiro Mickey Mouse, não tenho certeza se eles viram na época que haveria Disneylândia e filmes e todas essas outras coisas. Mas eu vejo os Dudes fazendo a mesma coisa neste espaço familiar.”

Os vídeos pioneiros que mesclam desafios esportivos, truques e tentativas de quebras de recordes desbloquearam uma categoria intitulada de “sports adjacency”, estabelecendo franquias de conteúdos responsáveis pelo início do império multimídia capitalizado em cima da audiência do público infantil e da experiência multitela entregue para toda família.

A fase pré-Highmount Capital incluiu a elevação da própria plataforma de streaming, a improvável compra de parte do clube inglês Burnley e a criação do Dude Perfect Cruise.

Os planos futuros projetam uma sede na área de Dallas — incluindo lojas de varejo — e um documentário da ESPN 30 for 30 que será exibido no Dallas International Film Festival.

Após a alavancagem de US$ 100 milhões, Tyler Toney, Coby Cotton, Cory Cotton, Garrett Hilbert e Cody Jones estão mais do que aptos a redefinir a creator economy de uma vez por todas.

Os criadores forjados para reinventar o entretenimento familiar, agora, passarão a ostentar o status de vanguarda da nova mídia.

“Quando você fala com adolescentes e crianças e pessoas que assistem aos Dudes, todos eles estão sendo influenciados: três em cada quatro crianças disseram que querem ser um influenciador e um criador. Então, eu não acho que eles vão chamar isso de economia criadora em um futuro próximo, eles só vão chamá-lo de mídia, porque é realmente isso que é, e os Dudes estão na van-end disso”, disse Coby Cotton ao The Hollywood Reporter.

A percepção de Coby com um ar de avant-garde respalda a aposta dos investidores para um segundo momento no melhor estilo Disney de construir uma marca.

Em tempos de creator economy, o Dude Perfect caminha para liderar como será a cadeia de valor de mídia do futuro.

“A era da mídia de massa foi de agrupamento liderada pelos proprietários da mídia. A era da fragmentação foi, obviamente, uma grande separação liderada pelas grandes plataformas de tecnologia. A próxima era será a da desagregação, só que desta vez liderada pelos criadores.”

As previsões em forma de insights feitas por Andrew Lipsman são baseadas na capacidade de criadores romperam sistemas, estendendo suas marcas para produtos de consumo.

Em um paralelo direto com a mídia de varejo, eles passam a funcionar cada vez mais como a camada de marketing e de publicidade, e conseguem extrair o seu poder por meio do ciclo de feedback do conteúdo e do comércio.

“Os criadores exercem uma força gravitacional em suas comunidades, baseada em afinidades culturais às quais seus públicos aderem. Em muitos casos, isso assume a forma de tribalismo — uma mentalidade de ‘nós contra eles’ — que ocorre em contextos benignos, como esportes e entretenimento (…) Esses públicos culturais são influenciados a expressar sua identidade por meio da compra de marcas e produtos em lojas físicas, on-line ou por meio de mídia comprável”, explicou Lipsman.

Quando Coby Cotton diz que chegou o momento de transformar a diversão dos vídeos no YouTube em “produtos da vida real e experiências memoráveis”, ele e seus quatro amigos e sócios nos mostram como a convergência do conteúdo e do comércio redefinem um cenário em que os creators são tanto o meio quanto a mensagem.

Na era dos criadores, crava Lipsman, os pontos de referência culturais ressurgirão como novos centros do universo da mídia liderados por expoentes como o Dude Perfect.

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Eduardo Mendes

Advisor for Culture and Innovation | Co-Founder na The Block Point | Web3 & New Technologies | Strategy, Research & Content | Sports | Entertainment | Media